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sábado, 8 de agosto de 2009

Chimbinha comenta…

Desde o ano passado que a Rolling Stone cogitava uma matéria com a banda Calypso, contando como eles atingiram o topo sem depender de gravadoras ou da mídia. Pelo visto, a Trip continua afiada e fazendo jus ao mote "A Trip deu antes". Mas não é visionarismo editorial o assunto desse texto, e sim uma declaração de Chimbinha sobre o tecnobrega.
Ele não gosta. Direito dele. Eu não gosto do cantor sertanejo Eduardo Costa. Direito meu. O que acontece é o velho choque de gerações. Na época dele, Chimbinha também encontrou resistência por parte de quem não estava acostumado com aquele ritmo novo, o calypso, que ele havia ajudado a desenvolver. Agora que deixou de ser pedra para virar vidraça, é a sua vez.
Mas é sacanagem minha comprar treta com o cara que eu considero meu Modelo de Gestão de Biografia. Pago tanto pau pra ele que até larguei a cachaça para ficar só no vinho. O que eu quero discutir aqui são os argumentos que ele usou para detonar os tecnobregas. Que fique bem claro: Chimbinha apenas expressou sua opinião, sem nenhuma maldade. Tanto é que ele ressaltou que o pessoal faz sucesso e que o sucesso precisa ser respeitado. Vou colar aqui os argumentos daquele que conhece os peixes amazônicos raros de brincar com eles, mergulhando nos rios quando era criança.

"O sujeito faz um jingle no computador falando o nome da sua aparelhagem e toca nas próprias festas, nos carros de som, aluga rádio pra tocar também. Deixaram de tocar a gente... Eu não curto muito esse som de coisas eletrônicas. Gosto de música com instrumentos. No tecnobrega, o jingle virou a própria música."
Os estudantes do segundo semestre de psicologia vão reparar de cara um certo ressentimento pelo fato dos tecnobregas não tocarem o Calypso. E não tocam mesmo. Os motivos estão na minha fila de espera para serem averiguados. Outra hora farei isso com toda a certeza. Outra verdade é que as aparelhagens ficam mesmo tocando músicas autoreferentes. Agora dizer que isso é ruim por si só, é por demais precipitado. Só que antes de analisar o assunto com mais profundidade, cabe aqui uma introdução ao assunto, porque o pop de Belém é tão endêmico, tão diferentão, que quem está de fora não entende lhufas.
As chamadas aparelhagens são as grandes festas de tecnobrega de Belém. Uma aparelhagem é composta por um paredão de caixas de som e no centro fica a cabine do DJ. As aparelhagens são empresas, cada uma com seu próprio cast de DJs, e a rivalidade entre elas é semelhante a dos times de futebol. Atualmente as maiores aparelhagens são Rubi, Super Pop, Hiper Cyclone e Mega Príncipe. São elas, digamos assim, as estrelas de primeira grandeza. As estrelas de segunda grandezas são os DJs. Eles são cultuados a ponto das pessoas ficarem o tempo inteiro assistindo suas performances na cabine como se estivessem contemplando uma banda. O destaque é tanto que as cabines recebem nomes pomposos como Águia de Fogo ou Duplo Cyber Comando. Só em terceiro lugar vêm os cantores e bandas.
É assim que a coisa funciona e esse sistema foi emergindo aos poucos, conforme a música evoluía e o cenário se consolidava. Para serem tocados nas aparelhagens, cantores e bandas fazem músicas exaltando uma ou outra e citando os nomes dos DJs. Isso faz com que a música produzida lá tenha um poder de alcance extremamente local, mas de forma alguma isso diminui a qualidade e a originalidade. As melhores músicas são mesmo as das aparelhagens, isso é fato. Só que a maneira como Chimbinha se referiu a elas faz com que soe como picaretagem. Não é. As coisas por lá funcionam assim e ponto.
verdade é que o pessoal de Belém desenvolveu uma nova forma, extremamente original, de se fazer musica eletrônica partindo da matriz brega. Já existem até alguns subgêneros, como o romântico melody ou o pesado eletro. As idiossincrasias que impedem o gênero de conquistar o país estão aos poucos sendo superadas. A banda AR-15 já se apresentou em programas de TV do sudeste e a Ravelly está fazendo muitos shows pelo interior do norte e nordeste - eles já se apresentaram até em São Paulo. O sertão nordestino costuma ser um laboratório e um termômetro das tendências da música popular, e a grande moda por lá é o brega eletrônico, que é como eles chamam o tecnobrega.
Outro nome que está causando sensação por onde passa vem da Bahia (e baianos costumam ser muito espertos...) Eles foram espertos quando inventaram o termo "arrocha" para o som tocado nas serestas, com um vocalista e um teclado. Inventaram o arrocha e com ele toda uma cena que hoje faz muito sucesso nas periferias de Salvador e no interior. Com o tecnobrega, eles mais uma vez demonstram sua astúcia. A banda baiana Djavú (confesso que ri muito quando li esse nome prela primeira vez), por exemplo, regravou o disco inteiro da Ravelly, mudando só alguns trechos de letras e títulos, e hoje estão fazendo fama em sua turnê. Em São Paulo, eles são o nome do momento nos camelôs, o que fez muita gente em Belém dar pulos de raiva, alegando plágio - a própria Ravelly entrou na justiça contra a Djavú, mas enquantos acontecem os trâmites legais, a maioria pensa que os paraenses é que estão copiando os baianos, quando o contrário é verdadeiro.
Desonestidade do pessoal da Djavú? Disso não tenho dúvida. Mas o que eu também não tenho dúvida é que os caras são mesmo muito espertos. Eles usam a pirataria como uma estratégia de marketing de uma maneira impressionantemente eficiente. Tanto é que foi no Terminal do Guaraituba, em Colombo (cidade vizinha a Curitiba e que tem a honra de ter este colunista como morador), que comprei meu DVD deles. Agora respondam: os paranaenses geram demanda a ponto dos pirateiros conseguirem as cópias? Nada! Aqui, 99,99999999% nunca ouviu tecnobrega e jamais pediria aos ambulantes. São os próprios caras da Djavú que colocaram o DVD na mão dos pirateiros, podem ter certeza.
A estratégia funcionou tão bem que em julho eles se apresentaram em São Paulo junto com o Forró do Muído em um show que reuniu 12 mil pessoas. A maioria não estava ali para ver Simone e Simaria, mas sim a banda que é praticamente um casal de cantores, um DJ com um laptop e umas vinte bailarinas de calcinha. Guitarra e baixo estão lá só pra figurar. Aliás, eu não duvido que o DJ Juninho Portugal, da Djavú, apenas dê um play no Winamp do computador e fique no MSN até o fim do show. Vai saber até que ponto vai a falcatruagem.
Brigas à parte, o que a Djavú faz com o tecnobrega é bem semelhante ao que o Bonde do Forró, banda do venerável Mestre Dj Maluco, faz com o forró: divulgação. O Bonde do Forró faz um imenso sucesso no sul e sudeste apenas tocando covers, com vocalistas que imitam com perfeição os originais. O vocalista Lauro é um clone tão perfeito do Bruno da dupla Bruno & Marrone que muita gente chega a confundir quando ouve as músicas no rádio. Assim como o funk é a grande promessa de sucesso mundial da música brasileira, o tecnobrega é a grande promessa de novo sucesso nacional. Meu sonho é ganhar na Mega-Sena, mudar pra Belém, me cercar de um harém de dançarinas lindas e gostosas e gravar o disco que fará sucesso em massa em 2010. Só que ultimamente não tenho conseguido acertar uma dezena sequer na Mega-Sena; cheguei ao ponto de chavecar quase todas as minas que me dão trela no ônibus, pois pelo menos no amor tenho que ter um pentelheziminho de sorte. O Chimbinha, com certeza, e por mais que eu pague pau pra sua pessoa, não vai financiar esse meu sonho. Tudo bem, não dá nada, não deixo de admirar sua carreira por causa desses deslizes mínimos. O disco ainda está nos meus sonhos, mas capa já está pronta.

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